Histórico da Região

No passado, a região do vale do Macacu-Caceribu foi uma área agrícola rica com uma importante população rural. Pode-se observar ao longo das estradas algumas marcas desse passado distante representadas pelas ruínas das senzalas, das grandes casas de antigas fazendas, das capelas, da época do Brasil colonial e do Brasil-Império, quando o vale do Caceribu se destacava como uma das mais importantes regiões agrícolas da Baixada da Guanabara. Ao passado mais próximo pertencem as grandes e pequenas olarias e indústrias cerâmicas abandonadas, os restos dos laranjais e dos bananais que trouxeram muita riqueza à região no século XX. Essa mistura entre passado, presente e futuro, registrada na paisagem, não é surpreendente, pois a história da ocupação do vale tem quase 500 anos.

Até a natureza foi sendo modificada de modo irreversível. Exceto pelas montanhas ou serras que limitam a região ao norte e ao sul, a maior parte do território foi alterada pela ação do homem, a exemplo da obra de saneamento da Baixada Fluminense, na qual o rio Caceribu foi “separado” do rio Macacu, rompendo com a hidrografia que havia fundamentado sua fisiografia. A obra teve por finalidade reduzir o impacto das enchentes desses dois rios e, conjugada à construção de canais e adutoras, foi responsável pela drenagem de extensas áreas de brejo, permitindo assim a ocupação humana das áreas pantanosas.

Na época colonial e durante o século XIX, a região era conhecida como o sertam (sertão) do Macacu. Isso porque o rio Caceribu era afluente do rio Macacu, o principal rio da parte leste da baixada da Guanabara. No passado, com muita freqüência o nome de uma região era dado pelo principal rio que a banhasse, pois as vias fluviais constituíam as principais vias de circulação de gente e de mercadorias no Brasil-Colônia e no Brasil-Império.

Durante a época colonial, o rio Macacu foi um importante eixo de comunicação por ser um dos caminhos de acesso ao norte do atual estado do Rio de Janeiro (Cantagalo, Nova Friburgo), ao sul de Minas e à região dos Lagos. Durante a primeira metade do século XVIII foi um dos caminhos para o contrabando do ouro, que era desviado dos caminhos mais diretos e controlados pela Coroa, mas a maior parte do vale do Macacu permaneceu despovoada até o século XIX.

Pelo rio Macacu e seus afluentes, como o Caceribu, circulavam mercadorias e pessoas, transportadas por pequenas e grandes canoas em viagens que duravam dias. Sempre foi problemática a circulação porque os rios eram estreitos e assoreados, alguns deles só tendo água suficiente na época das chuvas (verão). Existiam também as trilhas dos indígenas, aproveitadas pelos tropeiros e suas mulas, também encarregados do transporte de gente e de mercadorias. À medida que as fazendas eram abertas, uma rede de sinuosas estradinhas foi se expandindo acompanhando o processo de apropriação das terras da região. A atual rodovia BR-101 segue o caminho de terra construído no século XIX por escravos, e que ligava S.Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito à Região dos Lagos.

A indústria açucareira foi a principal atividade econômica do vale do Macacu-Caceribu na época colonial. Durante a maior parte do século XIX e até meados do século XX permaneceu como parte da paisagem apesar de perder gradativamente sua importância econômica. O açúcar foi, durante séculos um dos produtos tropicais mais valorizados no mercado estrangeiro. Por isso mesmo tornou-se o principal produto de exportação das pequenas colônias luso-brasileiras que foram sendo implantadas na costa atlântica, logo que os primeiros colonizadores verificaram a aptidão de algumas terras ao seu plantio. Apesar da presença dos brejos, alguns trechos da planície e as encostas mais baixas dos morros nos terrenos de relevo suave por onde serpenteavam pequenos rios revelaram-se propícios à plantação da cana de açúcar devido à presença de solos férteis de aluvião. As florestas foram sendo devastadas e o mato queimado para dar lugar às plantações.

Na área onde hoje se situa a cidade de Itaboraí existem notícias do povoamento do lugar desde 1627. Também conhecida em documentos antigos como Tapacorá ou distrito de Itapacorá, nome de um dos maiores engenhos coloniais do vale do Caceribu, a freguesia de S.João de Itaboraí só dará origem a uma vila em 1834, em pleno apogeu do café na região. A freguesia mais antiga, porém, era a de Santo Antônio do Caceribu e foi nela onde se fundou a primeira vila do sertão do Macacu. Batizada como Santo Antônio de Sá, a nova vila tinha jurisdição administrativa sobre as freguesias mais próximas: N. Sª. do Desterro de Tambi (Itambi); S. João de Itaboraí e Tapacorá (Itapacorá); N. Sª. Ajuda de “Sarnambitiba” (Guapimirim); Santíssima Trindade; e São Gonçalo.

O centro-sul do atual município de Itaboraí, e o leste do atual município de São Gonçalo constituíam uma importante área canavieira em meados do século XVIII. O vale do Macacu-Caceribu exportava aguardente, melaço e açúcar para o Rio de Janeiro no início do século XIX. O movimento comercial em Porto das Caixas, o porto localizado no baixo vale do rio da Aldeia era considerado como o principal escoadouro da freguesia de S. João de Itaboraí e da freguesia de Itambi. Em 1845, já se registrava uma mudança no movimento do porto, tornando-o um entreposto também da exportação do café do vale do Macacu-Caceribu e de Cantagalo e Nova Friburgo.

A cultura do café revitalizou a região de Itaboraí, mas só durante um curto período de tempo. A fundação da vila de S.João do Itaboraí em 1834 (o ato de emancipação foi em 1833) se deve, em grande parte, ao surto cafeeiro. A fundação da vila também se deve ao fato de que o primeiro presidente da Província do Rio de Janeiro (atual Estado do Rio de Janeiro) foi justamente um dos grandes proprietários da região, Rodrigues Torres, Visconde de Itaboraí.

A vila foi instalada entre o rio Iguá e o rio da Vargem, este afluente do rio da Aldeia, numa pequena colina, para evitar os alagadiços das terras baixas. Naquele momento, a população da freguesia de Itaboraí era a terceira em ordem de importância de toda a Província; possuía um número considerável de eleitores, chegando a competir com Niterói para a decisão de qual delas seria a capital da nova Província; mais ainda, tinha jurisdição sobre o arraial de Porto das Caixas e a freguesia de Rio Bonito, ambos considerados como lugares dinâmicos naquela época.

Durante o surto cafeeiro em Itaboraí, que se estendeu de 1830 à 1870, a produção da cana foi cada vez mais direcionada para a fabricação de aguardente, sobrando poucos engenhos de açúcar produtivos. Nesta época, a “cultura do barro”, que já existia na paisagem do município de Itaboraí adquiriu maior importância. A exploração da “tabatinga” das planícies, situada na superfície ou a pouca profundidade, e as outras argilas dos vales foram exploradas desde a época de domínio indígena, para a produção de utensílios de barro e, mais tarde, pelas fazendas da cana, para a fabricação das fôrmas de barro para os “pães de açúcar” dos engenhos. Não só cresceu o número de olarias, mas também o artesanato de barro. Em 1873, a primeira exposição municipal ocorrida no Brasil, de produtos rurais e fabris, foi realizada na vila de Itaboraí, e na entrada da Câmara Municipal estavam a mostra artefatos de cerâmica produzidos na região.

A vila de Itaboraí, assim como os pequenos portos do vale do Caceribu-Macacu e seus afluentes, experimentaram, um crescimento em função do surto cafeeiro na primeira metade do século XIX. A expansão do comércio beneficiou o crescimento urbano, mesmo que modesto, da vila de Itaboraí. O comércio era menos dependente dos cafezais do vale do Caceribu do que dos cafezais de Nova Friburgo e Cantagalo que usavam os portos fluviais do município de Itaboraí para escoar a produção. Porto das Caixas, antigo porto fluvial que serviu de escoadouro para a produção açucareira do leste da Baixada da Guanabara (o nome “caixas” vem das caixas de açúcar) tornou-se, na primeira parte do século XIX, o local de convergência das tropas de burro que transportavam a produção de café da região de Cantagalo e áreas circunvizinhas.

A construção da estrada de ferro Leopoldina provocou uma grande mudança nas vias de circulação e, no primeiro momento, beneficiou o município de Itaboraí. Porto das Caixas foi o centro de irradiação da estrada de ferro no esquema ferroviário fluminense. Como antigo porto fluvial e o maior do rio Macacu havia se tornado, durante o século XIX, o lugar de transbordo, primeiro do açúcar do vale do Caceribu e mais tarde do café que descia pelas trilhas desde Itaboraí, Rio Bonito, Capivari, Bacaxá, Boa Esperança, Nova Friburgo e Cantagalo. Por isso Porto das Caixas foi escolhido para ponto inicial da estrada de ferro Cantagalo. Em decorrência desse fato, foi criada a freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Porto das Caixas, em 1856.

Nesse período e até 1871, tanto Porto das Caixas como Vila Nova de S. José foram beneficiadas pela construção da via férrea. Vila Nova, outro antigo porto fluvial no rio Macacu, recebeu um ramal, construído entre 1866 e 1870. Entre 1871 e 1875, a construção da estrada de ferro até Itaboraí (e também à Nova Friburgo) e, principalmente, o prolongamento da via férrea de Vila Nova até Niterói, significou o aniquilamento definitivo de Porto das Caixas e também de Vila Nova como portos fluviais, tornando-se a primeira uma pequena estação intermediária onde os passageiros desciam.

No início do século XX surgiram novas culturas comerciais, como a banana e a laranja, (principalmente a partir da década de 1920); as primeiras linhas de estrada de ferro cruzaram a Baixada; um “cinturão verde” de chácaras que produziam gêneros alimentícios para o mercado urbano carioca mudou a paisagem de São Gonçalo; as antigas vilas de Itaboraí e Rio Bonito já eram cidades.

Em 1920, um novo alento é dado à economia açucareira em Itaboraí, mas em moldes inteiramente diferentes do passado e numa escala muito menor. A usina de açúcar de Tanguá começou a funcionar, e em função dela os fazendeiros e parceiros das proximidades voltaram a plantar cana, mas de forma limitada e localizada.

Em meados do século XX, as culturas da laranja e da banana alteraram novamente a paisagem dos municípios banhados pela bacia do Caceribu, representando uma reconquista das áreas abandonadas no início do século. Essa reconquista é complementada por outra: o saneamento da Baixada Fluminense, que ampliou a área economicamente aproveitável do vale do Caceribu. Dentre os principais aspectos da paisagem destacam-se: a ampliação da área de chácaras em São Gonçalo; a indústria manufatureira ganhou espaço, principalmente a indústria de cerâmica e olarias, além do complexo da fábrica de cimento Portland Mauá, que explorou a bacia calcária de S. José em Itaboraí, e a indústria de alimentos, principalmente de doce de banana e doce de leite em Rio Bonito; o café praticamente desaparece do vale do Caceribu. Destaca-se a permanência de culturas de subsistência, principalmente nas orlas florestais. A cana de açúcar permanece em manchas em Tanguá e em Rio Bonito, mas Itaboraí torna-se o domínio dos laranjais.

Depois de 1970, a paisagem sofre nova mudança. A construção da ponte Rio-Niterói acelera o processo de urbanização, principalmente em Itaboraí, que torna-se uma “cidade-dormitório” para trabalhadores de Niterói e do Rio de Janeiro, estimulando uma especulação imobiliária que criou novos problemas ambientais na região. A expansão do turismo e casas de veraneio na Região dos Lagos, assim como o asfaltamento da BR-101 estimulou o comércio da cidade, contribuindo para o crescimento dos serviços urbanos nas sedes municipais. As indústrias se diversificaram: agroindustriais (suco de laranja integral), farmacêutica (antibióticos) e metalúrgicas.

A cidade de Itaboraí é hoje um centro comercial e industrial, cercado de inúmeros loteamentos cuja urbanização é deficiente, formando uma paisagem caracterizada por um ambiente deteriorado, com acúmulo de lixo e pequenos riachos transformados em vala negra. A rodovia BR-101, quando passava por dentro da cidade, estimulava o comércio, mas contribuía para piorar o ambiente urbano.

É na área de Itambi (Manilha) que uma sucessão de loteamentos criou um grande adensamento populacional que descaracterizou completamente a área. O loteamento mais antigo foi o de Santo Antônio (1952), seguido por Jardim Fluminense (1969) e Elianópolis (1971); Jardim Shangri-lá (1971); Loteamento Nova Aldeia (1971); Jardim Alvorada (1971); Jardim Paes Leme (1975); Jardim Planalto (1976). Entre Manilha e Itambi, ao longo da rodovia Rio-Majé, há vários loteamentos, destacando-se o do Parque São Barnabé (1959); Jardim Vila Nova (1955); e Cidade Grande Rio (1969). Também em Porto das Caixas, vários loteamentos foram feitos, entre eles, Bairro Santa Cecília (1954); Jardim Porto das Caixas (1963); Jardim Itajubá (1976).